domingo, 9 de fevereiro de 2014



Hoje talvez tenha assistido ao momento mais doloroso que já mais alguma vez assisti na minha vida alguém passar.
Uma mãe agarrada ao seu filho já morto,gritando no desespero da sua dor

- NÃO VOU OUVIR MAIS; CHAMAREM-ME DE MÃE...
- PORQUE DEUS NÃO ME LEVOU JUNTO
- ESTOU VELHA, É O TERCEIRO FILHO QUE ME MORRE NOS BRAÇOS 
-O QUE FICO AQUI A FAZER VELHA E SOZINHA
-DEUS LEVA-ME POR FAVOR


Que vida esta, que desígnios tão cruéis para esta boa mulher, de lenço preto vestido e cara e mãos já tão marcadas de uma vida inteira.
Não deixei de me lembrar do poema de Fernando Pessoa, " O Menino de sua Mãe ".
Por mais que o meu coração pedisse para aliviar-lhe a dor, aquela dor eu  não consigo entender,acreditar nem imaginar nem chegar perto. 


No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe

Fernando Pessoa